A foz é linda!!

A foz é linda!!!!!!!!!!

Wednesday, May 27, 2009


Não quero rosas, desde que haja rosas.

Quero-as só quando não as possa haver.

Que hei-de fazer das coisas

Que qualquer mão pode colher?



Não quero a noite senão quando a aurora

A fez em ouro e azul se diluir.

O que a minha alma ignora

É isso que quero possuir.



Para quê?... Se o soubesse, não faria

Versos para dizer que inda o não sei.

Tenho a alma pobre e fria...

Ah, com que esmola a aquecerei?...



Fernando Pessoa, 7-1-1935.

Se alguém bater um dia à tua porta,

Dizendo que é um emissário meu,

Não acredites, nem que seja eu;

Que o meu vaidoso orgulho não comporta

Bater sequer à porta irreal do céu.



Mas se, naturalmente, e sem ouvir

Alguém bater, fores a porta abrir

E encontrares alguém como que à espera

De ousar bater, medita um pouco. Esse era

Meu emissário e eu e o que comporta

O meu orgulho do que desespera.

Abre a quem não bater à tua porta!



Fernando Pessoa, 5-9-1934.

Sossega, coração! Não desesperes!


Talvez um dia, para além dos dias,


Encontres o que queres porque o queres.


Então, livre de falsas nostalgias,


Atingirás a perfeição de seres.



Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!


Pobre esperença a de existir somente!


Como quem passa a mão pelo cabelo


E em si mesmo se sente diferente,


Como faz mal ao sonho o concebê-lo!



Sossega, coração, contudo! Dorme!


O sossego não quer razão nem causa.


Quer só a noite plácida e enorme,


A grande, universal, solente pausa


Antes que tudo em tudo se transforme.



Fernando Pessoa, 2-8-1933.

Sunday, May 17, 2009

Dorme


Estás adormecido e não há mote para despertar esse sono. Não interessa que tenhas deixado de ver ou sentir porque o que nos rodeia é também desprovido de sentidos ou de sentido algum. Fazes a cama com pequenos nadas que te vão levar para apenas um destino incerto. Se não perdes é apenas porque não tens nada para perder e sei-te só, triste e vazio. Não adianta ter um olhar que se volta para o horizonte, se lá, onde o céu toca a terra, apenas mora um enorme vazio. Para quê rastejar se no final apenas vais alimentar-te de migalhas. Desiste agora, mais tarde será apenas uma maior desilusão.
Sei-me perdida, entre universos paralelos que alimento de esperanças vãs e contraditórias. Da língua saltam palavras que gritam e no sono apago um choro íntimo, que não posso partilhar. Sou feia, de um feio que molesta e sei que nenhuma nuvem ou raio de sol me pode restituir o que nunca tive. Baralhar-me em mim e perder-me dentro e fora, é já um vinco. Sou anacoreta e mundana, numa espécie de flacidez que disfarço com boa disposição e superficialidade. Dos olhos não sai nada e pouco entra também, para que registe na mente tudo o que me rodeia. Sou assim e perco coisas e normalmente coisas que nem foram minhas. Pergunto-me porque erro, porque perco, porque não tenho.