Uma parte dela continua à procura.
Cada carro cinza prata, da mesma marca, com o coração colado na boca, procura-o em cada matricula.
Não pode ser bom sinal essa ansiedade.
Depois da força com que tentou fugir, não é lógica esta procura!
Tem saudades dele, não do carro!
Dói-lhe, bem sei, ela já mo disse.
Ainda existirá uma amarra invisível?
Será normal não conseguir em frente ou caminhar olhando para trás?
Sei que não pode ser. Transferir sentimentos de um lado para o outro como um vendedor ambulante, que monta e desmonta a sua tabanca em fracções de segundos. Será que ela tem consciência dessa tentativa insistente ou no anseio pela felicidade suprema esqueceu-se de perceber este fenómeno tão óbvio?
Viver em universos paralelos? O que é isto? Porque tenho a sensação de estar a viver uma experiência deste tipo? No fundo sinto que uma parte da vida se desenvolve de dentro para fora, eu mesma a prolongar-me naquilo que faço e a outra a viver apenas lá fora.
Gosto desta cidade e da possibilidade de em menos de 15 min poder estar nos locais de que mais gosto. Os locais que esta cidade oferece para as pessoas serem melhores, para se encontrarem e nessa busca encontrarem outros.
Se um dia tiver uma família só minha, quero que seja como a que se encontra na mesa ao lado. Harmoniosa, educada, descontraída, respeitadora e celebrando o amor de forma simples. Nunca tinha tido uma visão tão nítida de “uma família feliz” como a que acabo de testemunhar. Afinal sempre é possível.
Pronto, vai pegar no telefone.
Ahhhhh!
Hesita, dá voltas dentro de sí mesma, como um tigre enjaulado. Já contou até 1000 e na cabeça persiste a vontade de ligar. Mas ligar será o início de mais um salto no abismo, isso é também uma certeza!A solidão não me incomoda, ou talvez sim.
Preciso de alguma, em doses maiores do que a maior arte das pessoas e nessa medida, não me assusta, porque é uma solidão consentida, trabalhada. No fundo é na solidão dos nossos pensamentos que nos construímos.
Mas vejo em meu redor outras solidões, não sei se escolhidas ou impostas - se calhar a solidão é sempre uma escolha.
Não estamos sós sempre por opção?
Deixa-me adivinhar, tens enormes esqueletos no teu armário?
Vou contar-te um segredo, todos temos esqueletos no armário, são como provas da nossa passagem pelo mundo. Todos temos um esqueleto ou outro mas não é suposto falar disso, enfim tal como a masturbação, todos a praticamos mas não podemos assumir isso publicamente porque é “íntimo” de mais!!! Sabes como é!
Quanto a mim podes ter todos os esqueletos do mundo desde que me deixes entrar no teu armário.